2010-03-22

Desafio Audax - Loures-Évora - 21 de Março de 2010

Relato do PL

"Missão cumprida.
Chegámos (o JP e eu) a Évora antes do fecho do controlo.
Apesar de ter levado com o Homem da Marreta algures por volta de Vendas Novas, sobrevivi até ao final à custa dos rendimentos acumulados.
Com rendimentos acumulados quero dizer média de pedalada, que um pouco antes de Pegões, por altura da paragem para abastecimento aos 60 km de percurso, ia ligeiramente acima dos 30 km/h.

O início foi de loucos, comigo a tentar acompanhar o pelotão da roda fina que partiu como se não houvesse amanhã. Além de nós, só vimos outros dois participantes com máquinas de BTT, o que não era um bom sinal.
Rapidamente percebi que não podia embarcar nesta loucura e deixei-me ficar para trás a um ritmo mais realista. O JP estava bem mais à vontade que eu, mas deixou-se ficar comigo.
Nos arredores de Alhandra passa por nós o grupo da Carris e nós apanhamos o autocarro ;-)

Seguimos ao ritmo deles até ao abastecimento e havia alturas em que rolávamos na casa dos 40 km/h, de que resultou a média que referi atrás.

No abastecimento o grupo esfrangalhou-se. Nós os dois parámos pouco tempo e arrancámos, mas mais à frente eles voltam a passar por nós. Ainda tentámos ir na roda, mas alguns quilómetros depois o JP faz-me um sinal a dizer que não dava. Foi a boa notícia do dia. Se não dava para ele imaginem como eu ia. Fiz reset do cruise control e voltei a rolar a médias mais apropriadas à minha condição física actual que é... como dizer?... basicamente... nenhuma :-P

Lá me arrastei até Évora, com o JP sempre a esperar por mim nas subidas, e chegámos quase uma hora antes do fecho do controlo, o que ainda assim foi muito bom.

Quanto à organização, fiquei um pouco desapontado.
Os desafios Audax não são provas de velocidade e têm uma filosofia completamente diferente. Não há classificações e o controlo de chegada serve apenas para verificar que se consegue concluir o percurso no tempo limite definido. Era esta a minha expectativa, que construí pela consulta de muita informação sobre os Audaxes de outros países que está disponível na net. O próprio regulamento desta prova é claro nesse aspecto e a informação disponível no site da FPCUB também remetia para o princípio que rege os desafios Audax por esse mundo fora.
Não vi nada disso ontem. Deram-nos um papel que tinha um espaço para formalizar o controlo no abastecimento (o que de alguma confirmava o que era esperado), mas parece que a maior parte nem parou.
Quando parámos ainda perguntei se não havia carimbo, mas parecia que estava a falar chinês. Dizia o controlador que tinha chegado pouco antes dos primeiros, porque teve dificuldades para ultrapassar o pelotão, e que só tinha tido tempo de os ver passar como flechas, o que revela alguma desorganização, além de desconhecimento dos participantes quanto ao regulamento e ao espírito da coisa.
De acordo com as regras Audax, quem faltar a um controlo é desclassificado. O pessoal encarou isto como uma corrida, o que está completamente fora do espírito do Audax.
Compreendo que esta prova tenha funcionado como teste até para a organização e que no futuro sejam afinadas estas questões, senão quem fica a perder são os Audaxes de Portugal.
Dou o benefício da dúvida e disponho-me a participar no próximo desafio. Vamos a ver se a coisa melhora, ou se passamos a ter umas corridas de ciclismo em Portugal que exploram o conceito Audax para angariar participantes, mas que se estão nas tintas para os princípios que norteiam os desafios Audax originais.

Também estava previsto recebermos um certificado no final, mas parece que se esqueceram dele em Lisboa :-P

Eu, como associado da FPCUB, não paguei nada pela participação, mas até agora também não recebi nada. Até o banho tivemos que pagar (2 euros cada banho). O JP já teve que pagar 5 Euros (mais o banho) e além do seguro e de duas bananas não teve mais nenhum serviço associado, nem sequer o certificado.
Conheço maneiras bem mais agradáveis e baratas (sem custos de recolha de ciclistas no final, por exemplo) de fazer 100 ou mesmo 200 km. Podem-se substituir os custos de transporte e inscrição pelos de um almoço em Salvaterra, que é bem mais agradável. Se for preciso até se passa certificado no final. São os Audax Just4Fun.

Gostaria de ir completando os Brevets Audax, pelo menos até aos 300 km (o que já é utópico neste momento), porque o conceito original agrada-me muito, mas se continua assim acho que passo a completar apenas os brevets Just4Fun (o que me dá algumas ideias ;-) )

Já agora e só por curiosidade, o tempo limite era 6h08m e fizemos 5h14m. Concluímos portanto com alguma folga, apesar da chuva e trovoada que apanhámos em Montemor-o-Novo."

2010-03-15

24 H ZMAR - Zambujeira do Mar - 13 e 14 de Março de 2010

Relato do PL:

"Antes de continuarem a ler afastem-se um metro para trás se não quiserem levar com salpicos de lama em cima...

Já está?

Bom... Vamos lá relatar como se passou o meu fim-de-semana de incorporação nas tropas especiais.

Não se pode dizer que não estivéssemos avisados... Choveu muito durante muitos dias e nas voltinhas por Monsanto dava para perceber que o terreno não consegue absorver mais água. Seria de esperar algo semelhante lá para as bandas da Zambujeira do Mar. O que não se esperaria era que a expressão " do Mar" se referisse a um mar de lama...
A organização também preveniu uns dias antes da prova para levarmos meias impermeáveis e no briefing disse que o percurso tinha de tudo e até ciclocross. Nessa altura vieram-me à memória imagens de uns tipos com aspecto vagamente humano cheios de lama por todos os lados, a subirem taludes escorregadios com um monte de lama às costas que tinha um formato semelhante a uma bicicleta.
Nah!!! Não devia ser assim tanto. Era só para nos assustar.

Rebobinemos um pouco para a véspera da prova...

O Zmar tem condições excelentes e decidi ir na véspera com a família para aproveitar um pouco do fim-de-semana. A chegada tardia, no entanto, e algum cansaço acumulado apenas permitiu fazer um breve reconhecimento das facilidades e perceber que quem ia ter um tempo bem passado não era eu de certeza. A ida para a cama foi cedo e a noite foi descansada, pois nem se pode comparar a diferença entre dormir numa cama a sério num chalet de madeira, com uma noite num saco cama na tenda.
A alvorada foi cedinho para ir ao Secretariado e beber um café na esplanada sem andar a correr. Apesar disso, quem já fez provas de 24 h sabe que o tempo antes da prova passa num instante enquanto se fazem os preparativos e quando cheguei à partida já o briefing tinha começado. Fui ainda a tempo de ouvir o tal aviso do ciclocross, que terminou com um: “não tenham vergonha de seguir a pé...”.
Mau!!!
A mim não me precisam de avisar disto, que já vou estando habituado a empurrar a bicicleta, mas se falam assim no briefing, a coisa deve mesmo estar complicada.
Já que aqui estou, seja o que Deus quiser...

Dada a partida lá me situo estrategicamente na retaguarda do pelotão, como é hábito, para me resguardar das confusões iniciais e porque vai haver muito tempo para pedalar sem ter que ganhar dois segundos na partida (a experiência nestas provas já é muita;-) ).

Nos primeiros 500 m fazemos logo um single espectacular, que para mim era a parte mais divertida do percurso, entrando depois num estradão por cerca de um quilómetro de sobe e desce não muito acentuado até se atingir a zona em que percebemos o que queriam dizer com “desmontar”. Tratava-se de um pantanal em que a bicicleta se afundava e, quando desmontávamos, os pés enterravam-se até aos tornozelos. Isto durante para aí uns 500 m. Ao fim de 2 km já as máquinas e os homens tinham sido postos à prova duramente. Como seria nas restantes 23h45m?
Continuei a volta com apreensão relativamente ao que ainda estava reservado, mas apesar de algumas passagens complicadas, nenhuma se assemelhava a esta. Havia outras zonas pantanosas, mas de muito curta extensão, e uns caminhos que apelavam claramente para o nosso sentido de equilíbrio para conseguirmos progredir por estreitas línguas de terra apenas húmida no meio de grandes poças de água e lama. Na minha avaliação preliminar, durante o dia não haveria crise nestas passagens, mas à noite a percepção do terreno é outra e seria, para mim, das piores zonas a passar, porque com as dificuldades de visão e com a degradação das múltiplas passagens, podiam haver armadilhas escondidas.
Nestas coisas o pior é ter pensamentos parvos, como adiante se verá.
Felizmente a volta também tinha algumas extensões grandes de estradão, que davam para descansar o corpo e aliviar a concentração, beber e comer.

No fim da primeira volta, por causa da parvoíce de tentar acompanhar o restante pessoal para não ficar muito sozinho no fim do pelotão, fiz 32 minutos e estava bastante cansado. Havia que cair na realidade e reduzir o esforço. Cheguei a pensar se valia a pena o esforço, já que de “Fun” estava a haver muito pouco, mas tinham-me dito que havia 21 participantes a solo e só até ao 20º lugar é que se pontuava para o troféu. Ora eu não estava para ter vindo até aqui e ficar de mãos a abanar. Já que estava com os pés molhados ia continuar até dar, na esperança de haver alguém que desistisse antes de mim.

Foi assim que fiz as três voltas seguintes a um ritmo ligeiramente mais contido (entre 35 e 37 minutos) estabilizando a partir da 5ª volta em tempos a rondar o minuto 40. Entretanto, como já estava com os pés encharcados, não podiam ficar piores e mentalizei-me que aqueles 500m de pântano seriam para fazer em ritmo calmo e tentar recuperar um pouco do esforço de pedalar e das dores das costas que haviam de aparecer lá para o final do dia, o que me ajudou bastante no aspecto anímico.
A meio da tarde, vi que conseguiria fazer dez voltas até ter que parar para jantar e colocar as luzes e estabeleci essa meta, mesmo sem saber em que lugar estava. Só perto das 16 horas tive a primeira informação relativa à classificação e estava nessa altura em 17º. Mantive a estratégia que tinha delineado.
Para o final da tarde começou a levantar-se um vento forte e gelado que além de dificultar a progressão me fazia sentir muito frio, pois à hora da partida estava uma temperatura primaveril e arranquei de calções e manga curta.
O material começava a queixar-se e apesar de estar constantemente a ser lubrificado começava a ter chupões de corrente.

Às 18:23, no final da 10ª volta, já com o dia a escurecer e o material a queixar-se muito parei pela primeira vez. Eu fisicamente estava melhor do que o previsível e já há muito tempo que vinha a pensar como gerir o equipamento, pois tinha muita roupa, mas só dois pares de sapatos e de meias de neoprene. Iria fazer esta paragem em que teria forçosamente que me descalçar para entrar no chalet e teria que calçar material seco. Logicamente e porque a noite se adivinhava muito fria calçaria as segundas meias de neoprene e optaria por calçar os sapatos molhados, pois ao fim de um quilómetro da primeira volta nocturna já estaria a chafurdar na lama outra vez.

Fui lavar a bicicleta para a lubrificar um pouco melhor e fui jantar. De caminho fui ver as classificações e vi que dos 21 concorrentes a solo duas eram senhoras, pelo que na verdade só 19 é que estavam na minha classe, o que me garantia pontos pelo simples facto de ter terminado uma volta. Ainda assim, estava com vontade de fazer mais umas voltas, porque também não queria ficar em último e os que estavam atrás de mim tinham poucas voltas de atraso.
Foi então que tive um problema caricato e que nunca me tinha acontecido. Os fechos dos sapatos estavam com tanta lama por dentro (apesar de lhes ter dado uma mangueirada) que não funcionavam e os sapatos tiveram que ser arrancados à força. O pior é que com as meias de neoprene ficam muito justos e foi um trabalhão para os arrancar (literalmente) dos pés. Já com eles na mão tentei desapertá-los mas não consegui, pelo que estava fora de causa voltar a calçá-los.

Entretanto comi com calma, tentei lubrificar o mais que pude e montei as luzes. Fisicamente estava bem pelo que pelas 21:00 arranquei para as voltas nocturnas, todo enchouriçado por causa do frio e com o MP3 para me fazer companhia. Não estava sequer a pensar fazer a noite toda a pedalar, mas tentar fazê-lo pelo menos até por volta da uma da manhã, o que daria mais umas quatro ou cinco voltas.
A primeira volta correu bem e voltei a fazer um tempo a rondar o minuto quarenta, mas quase no final da segunda, na tal zona em que tinha que se escolher a trajectória sem o mínimo desvio, aconteceu o que se previa: escolhi mal a trajectória, tentei corrigir, a roda resvalou para um rego e eu caio para o lado para dentro de uma poça funda. Digo uma série de impropérios mas levanto-me logo para sair daquela zona rapidamente, até porque vinham concorrentes atrás.

A partir daí os chupões de corrente agravaram-se e as mudanças começaram a falhar mais, mas pensei que deveria ser pelo facto de o desviador ter ficado cheio de lama da poça. A volta seguinte foi um martírio... Sempre que precisava de pedalar em 1:1 a corrente prendia. Era impossível continuar a pedalar assim, pelo que no final da terceira volta nocturna recolhi às boxes. Nessa altura ainda considerava a possibilidade de dar mais umas voltas de manhã, mas os ecos que me chegaram sobre a qualidade das instalações do ZMAR, sem que eu pudesse usufruir delas, a preguiça que me deu e me impediu de levantar cedo, associados à pouca probabilidade de ainda subir alguns lugares, fizeram-me optar por passar uma manhã tranquila a gozar as poucas horas livres que tive no local, qual turista em férias.

Na manhã de domingo, quando estava a preparar a bicicleta para o transporte verifiquei que os chupões de corrente foram agravados pelo dropout e desviador traseiro empenados (quase de certeza resultado da queda) que causavam prisões na corrente, que os calços de travão tinham sido quase completamente consumidos, estando os traseiros quase no alumínio. Para o material a prova também não foi fácil e, apesar de ter calços para mudar, seria quase impossível pedalar com o mínimo de condições no Domingo, o que me deu algum aconchego e justificação adicional para a opção de ter parado às doze horas de prova.
Ainda passei pela meta para ver as classificações, pois como tinha terminado a noite em 14º era de prever a perda de vários lugares, mas para meu espanto estava em 15º, porque a partir do 11º só um participante é que continuou a pedalar. Apesar de tudo, até nem era mau de todo, tendo em conta que não me preparei minimamente e que nestas provas cada vez aparecem menos “pára-quedistas”, como eu.

Por falar em “pára-quedistas”, a minha incorporação nas foças especiais terminou assim ao fim de doze horas de trabalhos forçados e com tempo suficiente para beberricar um cafezinho na esplanada no Domingo de manhã e de ver a partida para o GP do Bahrein antes de me fazer à estrada para vir para casa. Só me lembro de ter chafurdado tanto em lama na recruta em Mafra, faz precisamente este mês 26 anos. Como o tempo corre depressa.

No meio disto tudo, quem gozou mais foi a família, que usufruiu em pleno das excelentes condições do ZMAR, com especial destaque para a piscina de ondas interior. No intervalo das “férias” ainda arranjaram tempo para apoiar e abastecer ciclista e máquina com os respectivos líquidos de que cada um ia necessitando em cada momento.
Fotos, só daqui a uns dias, que agora a prioridade é voltar a pôr o equipamento operacional.

Estão assim conquistados os primeiros pontos do Troféu PTOPENXCR, que era o principal objectivo.
Próxima prova: 15 e 16 de Maio em Castelo Branco.
Conto estar à partida, que esta organização merece a nossa presença, mesmo depois de nos praxar no lamaçal ;-) .
Já agora, conto ser um bocadinho menos preguiçoso e dar mais umas voltinhas"

2010-03-08

Duatlo de Grândola - 7 de Março de 2010

Relato do TA:

"Desta vez a representação dos J4F no campeonato de Triatlo PORTerra resumiu-se à minha presença, talvez porque os restantes elementos habituais não tivessem cleats instalados nas galochas.
A prova de Grândola era um duatlo mas com tanta água que atravessámos até ficou a dúvida.

Mas voltemos ao princípio: a primeira componente de corrida era feita no centro da vila, em alcatrão e num plano pouco inclinado pelo que a velocidade foi relativamente elevada nos 5700m de percurso, eu pelo menos nunca tinha corrido tão rápido… De seguida tínhamos duas voltas de BTT que perfaziam 19km num autêntico lamaçal. Não havia grandes desníveis, e ainda bem porque as dificuldades que a lama provocavam já eram suficientes. Para além da lama e das inúmeras poças nos estradões de areia que obrigavam a um serpentear constante, o ponto alto da volta foi uma parte do percurso ser constituída por um caminho em pedra (acho eu) totalmente inundado: a água teria entre um palmo e meio metro de altura numa extensão de 600/700 metros. No mínimo caricato… especialmente se pensarmos que este era já o ‘plano B’ uma vez que a ribeira que tínhamos de atravessar estava demasiado cheia…
Não me safei a duas quedas, uma para cima de um arbusto quando perdi aderência numa curta subida íngreme e outra numa descida também ela com um desnível acentuado e que terminava num enorme campo de lama… aquilo dava para um gajo se afogar pois afundei um palmo na lama! Pelas contas que fiz, consegui fazer uma média superior na corrida que no BTT.

Depois deste tratamento de beleza e com uns 5kg de barro agarrados ao corpo chegava à última componente de atletismo que foram feitos com muito sacrifício pois o joelho esquerdo começou a embirrar com o esforço.
Terminei a prova(ção) com 1h51m em 128º lugar, um lugar no meio da tabela."