2010-07-30

12 Horas de Proença-a-Nova - 24 de Julho de 2010

Relato da participação do PL:

"42ºC?...
Nah!...
O Polar deve estar com erro. De facto está calor, mas não pode ser tanto.

Bem… O briefing está a começar, vamos lá enfrentar o Sol.

Talvez tivesse sido aconselhável ter pedalado um bocadinho nos últimos dois meses. Talvez aguente… Afinal são só doze horas, quem não aguenta doze horas a pedalar não se mete nestas coisas e comparando com as provas de 24h em que entrei, uma de 12h é para tenrinhos.

Estes eram alguns dos pensamentos que me passavam pela cabeça um pouco antes das 12:00 e de começar o briefing em Proença-a-Nova das 12 horas BTT (terceira prova do troféu PTOPEN-XCR).

“… O percurso é muito duro e tem muitas subidas, mesmo quando se pensa que acabaram, aparece mais uma…”. Mau sinal este que nos era transmitido pelo Paulo da empresa Horizontes, que organiza o PTOPEN-XCR, mas se ele dizia que era assim o melhor era acreditar. Ele não nos costuma enganar.

Foi assim que, logo após a partida, me fui deixando ficar para trás, a um ritmo contido. A primeira volta ia também ser a de reconhecimento e com os avisos das subidas e de algumas descidas perigosas, mais valia começar com cautela.

A parte das subidas foi confirmada ainda no primeiro quilómetro de prova, mas rapidamente chegaram as correspondentes descidas. Algumas, no entanto, eram um pouco complicadas e não me permitiam descansar antes de enfrentar a subida seguinte, o que não augurava bom futuro.

Foi neste sobe e desce constante que finalizei a primeira volta, com alguma apreensão, já que fazer cinquenta minutos em dez quilómetros era um ritmo um pouco lento demais. O calor era muito e não ajudava. A quantidade enorme de singles com muita condução, eram muito divertidos, mas não ajudavam os… digamos… menos preparados (como eu), mas logo se veria como correriam as voltas seguintes.

Rapidamente verifiquei que teria que parar após a segunda volta para reabastecer de líquidos, o que era uma volta mais cedo do que tinha planeado, mas estava de facto a beber mais que o normal. Fiz a segunda volta lenta para poupar e reabasteci. Perdi-me duas vezes nesta volta, o que revela uma desconcentração pouco habitual e dava sinais que o discernimento estava abaixo do normal. Fisicamente estava a custar-me mais que o esperado, até porque só tinha feito 20 km, o que não era nada. Verifiquei o acumulado de subidas e estava quase com 600 m. OK, isto vai ser mesmo muito duro. Vamos ver até onde dá…

Arranquei para a terceira volta com espírito de poupança e tentando estabelecer uma meta pessoal alternativa, já que seria impossível fazer os 100km que tinha definido como meta para esta prova. Talvez assim conseguisse ficar nos 20 primeiros classificados e garantir um ponto, que seria mais difícil desta vez devido aos mais de trinta inscritos a solo. Apontei para os 80 km (oito voltas). A terceira terminou com maus sinais, já que em algumas subidas comecei a praticar empurra-bike. A quarta volta foi o descalabro. Tudo feito em avozinha e a pé em quase todas as subidas devido a cãibras. Moralmente foi um “murro no estômago”. Eram quatro da tarde, estava com quatro voltas (40 km) e nem o calor e as subidas podiam justificar o mau desempenho. Quando parei junto ao carro pensei seriamente em desistir logo ali, pois não ia estar mais oito horas a fazer voltas a pé e com cãibras. Apesar de tudo não entreguei o chip e tentei recompor-me. Comi, bebi muito e sentei-me. Acabei por adormecer e fui dormitando enquanto ia ouvindo reacções de outros participantes à minha volta. Um nem tinha ainda tirado a bicicleta do carro, outro tinha feito quatro voltas e ia desistir apesar de estar em 12º (eu estava em 15º na altura). Outro tinha feito duas voltas e tinha tido três furos. Não era só a mim que me estava a correr mal. Talvez haja possibilidade de evitar o descalabro completo.

Cerca das seis horas já recuperado moral e fisicamente (achava eu) preparei-me para regressar ao percurso para mais umas voltas. A sesta tinha-me custado quatro lugares e estava agora em 19º, com muita gente com o mesmo número de voltas que eu, ou com mais ou menos uma, pelo que tudo ainda era possível na batalha pelo último lugar pontuável.

A primeira volta após a pausa (quinta) correu-me muito bem e voltei a fazer cinquenta minutos. Apesar de ir a poupar, fiz a volta toda a pedalar, o que era bom sinal. Parei na meta para encher um bidão de água e saber se podia dar mais uma volta sem luzes, o que se confirmou. Parti para mais uma volta antes da paragem para descansar, abastecer e montar luzes, mas ainda no primeiro quilómetro voltaram as cãibras, agora mais fortes que antes. Estive a “um bocadinho assim” de voltar para trás e anular a volta, mas depois de parar uns minutos e avaliar a situação decidi completar a volta, nem que as subidas fossem quase todas a pé (como previa e veio a acontecer). Esta volta nunca mais acabava. O tempo estava agora mais fresco e, ou era alucinação, ou estava mesmo agradável para pedalar. Acho que era realidade mesmo. Corria uma brisa muito agradável e a temperatura e luz do fim de tarde estavam perfeitas. Foi uma pena que não pudesse apreciar estas condições. As partes a descer, no entanto, foram muito agradáveis (embora curtas para o meu “mau” estado). Parei várias vezes durante a volta e as subidas foram obviamente um martírio. Foi com um grande alívio que cheguei ao cimo da última subida antes da descida final de aproximação à meta. Era claro para mim que a minha prova ia terminar no fim desta volta e já nem a miragem do possível pontinho me servia de “cenoura” para continuar o sofrimento.

Após cortar a meta fui entregar o chip e despedir-me do Paulo. Trocámos umas breves palavras de despedida e parece que estava mesmo com aspecto de esgotado (segundo ele). Não fiquei para o fim da prova e respectiva festa e parti logo para casa para iniciar rapidamente a recuperação. Estava então no 17º lugar, mas faltando ainda quase quatro horas de prova seria de esperar uma grande queda na classificação final. Logo se veria o tamanho da queda, porque subir era impossível. Devido ao estado de esgotamento em que me encontrava, nem a pé conseguiria dar mais uma volta.

Foi com alguma surpresa que constatei na segunda-feira que a queda não tinha sido tão grande como poderia supor, dado que fiquei em vigésimo lugar, garantido o tal pontinho que serviu de motivação na minha última volta e cuja miragem me impediu de voltar para trás quando as cãibras atacaram em força.

Desta prova podem-se tirar várias conclusões. A primeira é que sou mesmo tenrinho e nem uma prova de 12 horas aguento neste momento. A segunda é que convém treinar um bocadinho se queremos participar nestas provas. A terceira é que os quilómetros acumulados no ano anterior não duram para sempre e se nas duas primeiras provas consegui disfarçar a minha forma miserável, desta vez foi indisfarçável. A quarta é que confirmei, como se isso fosse ainda necessário, que provas organizadas pelo Paulo e pela Horizontes são um mimo e é com muita pena que não vou poder participar na próxima (em Manteigas), devido a outros compromissos. Na verdade é com pena, mas também com algum alívio, porque se a minha preparação não melhora ainda acabo a dar apenas uma volta e… em Manteigas, não estou a ver muitas zonas planas ;-) . A quinta é que há alturas em que temos que esquecer a teimosia e deixar a razão decidir o que é melhor para nós, que somos uns turistas nestas provas, e que por vezes estamos nitidamente impreparados para o desafio que pretendemos enfrentar, como foi o caso. A sexta é que há provas de 12 horas mais duras que provas de 24 horas, mesmo considerando eventuais diferenças de preparação pessoal. A sétima é que tenho que voltar a Proença para me desforrar. A última memória que tinha era de umas 24 horas em equipa de quatro que me tinha corrido bem (para o meu nível) e não quero que essa memória seja apagada por uma participação menos positiva nestas 12h.

Agora vou ter de arranjar maneira de treinar mais um bocadinho, porque começo a não ter desculpas para incluir nos relatos das minhas participações e ou paro de participar ou paro com as lamúrias.

Bem… fico por aqui que amanhã tenho que ir pedalar e já passa da meia-noite ;-)

PL"