2009-06-01

TriumviratumBTT - 16 de Maio de 2009 - O relato

TriumviratumBTT II – O regresso dos Just4Fun

Como sabem as três pessoas (não Just4funers) que visitam este blogue, em Setembro de 2008 atirámo-nos cheios de fé ao desafio colocado pelo TriumviratumBTT, que consiste em ligar Leiria, Torres Novas, Tomar e regressar às origens a pedalar num percurso fora de estrada, com cento e quarenta quilómetros e uns trocados. Batemos com o nariz no escuro da noite ao fim de doze horas, com cerca de dez dúzias de quilómetros feitos.

Viemos para casa lamber as feridas no ego e massajar o orgulho, na expectativa de lá voltar em Maio de 2009.
No dia 16 de Maio às 7:00 lá estavam em Leiria seis Just4funers pedalantes e três apoiantes para tentarem dar a volta ao percurso. Desta vez talvez estivéssemos mais apreensivos, dado que sabíamos melhor o que tínhamos pela frente. A chuva que ia caindo também não ajudava a animar, mas a vontade de concluir a volta era muita.
Foto da praxe junto à Fonte Luminosa... "até já" à equipa de apoio... e “ala que se faz tarde”...
A experiência anterior permitiu-nos seguir sem hesitações o percurso, ainda que os GPS’s nos empurrassem logo para a outra margem do rio, e assim fomos galgando os quilómetros iniciais embrenhando-nos no Valinho da Curvachia passado pouco tempo. A chuva que tinha caído e continuava a molhar-nos deixou o terreno pesado e com muita lama mas lá progredimos em bom ritmo. Mentalmente íamos fazendo contas à média e ao tempo que demoraríamos a completar a rota. Serra acima fomos passando pelos pontos onde na tentativa anterior tínhamos registado furos e pensando que esperávamos que a saga não se repetisse. A coisa foi correndo bem até que um fura. Alguns de nós terão pensado: “Já começou a maldição dos furos...”.
Substituição da câmara por outra com Magic Seal e alguns aproveitaram para contar os remendos que a câmara furada tinha (reutilização: ambiente “oblige”). Parece que eram nove, mas ainda assim o furo conseguiu encontrar um bocado de borracha virgem.
Os quilómetros seguintes lá pelo alto da Serra foram percorridos sempre a olhar para os pneus, mas desta vez não tivemos o azar de Setembro.O primeiro encontro com a equipa de apoio teve lugar antes de se começar a descer a sério para Torres Novas numa terra perto da Pedreira do Galinha, famosa pelas pegadas de dinossáurios. Foi a altura de repor os níveis e de fazer pequenas afinações no material que tinha sofrido muito nas primeiras horas. A chuva tinha parado e o moral estava alto.Próxima paragem Torres Novas e agora é quase sempre a descer. Foi a parte mais rápida do percurso. Tão rápida que quase chegávamos antes da equipa de apoio. Era altura de comer qualquer coisa à laia de almoço, mas não se podia demorar muito, que o tempo não pára. Mais uma afinações mecânicas e lá vamos nós direitos a Tomar. Próxima paragem: Paço da Comenda.

Alguns de nós sofreram um bocado neste troço. Por exagero de ritmo inicial, por terem comido demais, porque já se levavam muitas dezenas de quilómetros nas pernas, ou tudo conjugado, o grupo partiu-se ao meio na subida para os moinhos da Pena. Lá no alto reagrupámos e seguimos juntos até ao ponto de apoio, onde voltamos a demorar um bocado mais que o desejável, no intuito de tentar recuperar o corpo e a mente.Tomar era já ali e se a hipótese de completar o percurso em doze horas começava a ficar comprometida, ainda restavam muitas horas de luz para pensarmos que não chegaríamos ao fim. Começou a equacionar-se a possibilidade de dividir o grupo em duas equipas, dado que naturalmente três de nós estavam com um ritmo muito mais vivo que os restantes. Podíamos assim tentar que uma equipa chegasse antes das doze horas. Decidiu-se que chegaríamos todos juntos, fosse com que tempo fosse. Era o espírito Just4Fun em acção.

Tomar foi passada rapidamente demorando apenas o tempo necessário para a fotografia na praça central, dado que vinha já aí a subida para o Convento, que não é pêra doce.
O próximo ponto de apoio foi no Aqueduto de Pegões e as paragens iam ficando cada vez mais demoradas, aproveitando-se para comer e recuperar ânimo, que o corpo já teimava em não recuperar.
Sabíamos que se seguia um sobe e desce massacrante e arrancámos com cautela para não estoirar definitivamente. Alguns, no entanto, pareciam tão frescos como no início e seguiam a um ritmo impressionante, tendo depois que esperar que o restante gang reagrupasse.
Estação de Fátima: Paragem rápida e lá vamos nós.
Vilar dos Prazeres... No ano passado a noite caiu-nos em cima neste ponto. Desta vez o Sol ainda ia alto. Era claro que as doze horas eram uma miragem, mas faltavam cerca de 30 quilómetros... Já cheirava a Leiria. Era preciso um cataclismo para não conseguirmos concluir. Após uma paragem também algo demorada seguimos para Santa Catarina e daqui para a frente era tudo novidade. Havia informações que não eram “favas contadas” até ao final e que ainda penaríamos um bocadinho numa subida. As paragens para descansar e reagrupar passaram a ser mais frequentes e a tal subida que se esperava acabou por ser feita em duas etapas para os três da retaguarda, mas na paragem para abastecimento em Santa Catarina os sorrisos foram-se abrindo e a sensação de conquista foi-nos invadindo. Não foi sem sofrimento que se fez a última etapa antes de Leiria, onde se acumularam alguns enganos, alguns por desatenção nossa, outros induzidos pelo track. Nesta última fase ficou-nos na retina um longo single a descer ao longo de uma ribeira que nos soube muito bem. A aproximação a Leiria é penalizada pelo progresso, que nos faz andar a fugir das vias rápidas, onde mais uma vez os tracks e o terreno nem sempre batiam certo, mas por palpite, ou pelo método da tentativa e erro, lá se foi encontrando o caminho a seguir. Estávamos já com os últimos raios de Sol quando entrámos em Leiria. Entretanto um dos GPS’s já tinha ficado sem bateria e outro tinha tido uma paragem algures antes de Torres Novas, mas passados uns quilómetros conseguiu-se pôr a funcionar. Restavam três, mas posteriormente constatou-se que um destes não tinha gravado o percurso. Não eram estes azares que nos iriam tirar o sabor de vitória com que voltámos à fonte luminosa para a foto final, treze horas e vinte e um minutos depois de termos dado a primeira pedalada.Brindou-se com champanhe fornecido pela equipa de apoio e seguimos para casa do JB, para o banho e jantar com o que tinha sobrado dos abastecimentos.

O regresso a Lisboa foi penoso, depois de dormir poucas horas na noite anterior e do esforço de pedalar durante 148 km com quase 3000 metros de acumulado de subidas, mas a sensação de vitória manteve-nos acordados.

Cumpriu-se o Triumviratum. Parabéns a quem teve a ideia de lançar este desafio e a quem o conseguir concluir. Nós já conseguimos, venham os próximos.

Sem comentários: