"E os 300 estão feitos… Quem diria há algum tempo atrás…
Quinze horas e 305 km depois de ter começado a pedalar (a horas
demasiado matutinas para o meu gosto: 06:00), eis-me de volta ao complexo de
piscinas de Vila Franca de Xira.
Podia haver muito para contar, mas de facto tudo se resume a
meia dúzia de palavras (vá lá, onze dúzias e meia, no máximo).
Início noturno em pelotão compacto quase até perto do Couço,
segundo ponto de controlo. Daqui até à Barragem de Montargil fui integrando
pequenos grupos, mas a partir daí foi um exercício a três (Eu, a Sirrus e o MP3).
Foram mais de 200 km em solitário com encontros fugazes nos postos de controlo
ou quando por mim passava alguém, o que se tornou cada vez mais raro até
Montemor, não tendo encontrado ninguém depois deste ponto. Em Vendas Novas fiz a
última paragem para alimentar, ligar luzes e ganhar alento para os quilómetros noturnos
que me haviam de levar ao final, onde o Pedro Alves e restante malta dos
Randonneurs acolhiam quem chegava com um sorriso e uma palavra de conforto e
felicitações. O tempo, embora frio, esteve do nosso lado e não complicou o que já
seria complicado.
E pronto, está contado o que havia para contar.
Bem, posso acrescentar que no final estava moído, porque
quinze horas no selim não se passam impunemente (na verdade, efetivamente no selim
deve ter andado perto das catorze), mas convencido que podia ir mais longe, o
que me deixou animado para enfrentar o próximo desafio, já em Maio.
O melhor bocado foi entre Graça do Divor e Montemor, onde o
bom piso, o vento favorável e o facto de ser quase sempre a descer, me permitiu
andar bem e recuperar a média e ânimo que levaram grandes rombos no troço entre
Ponte de Sôr e Arraiolos (o pior bocado), onde cheguei muito cansado e onde podia
ter levado um golpe ainda maior no ânimo quando, após ter parado um pouco para
comprar líquidos e mantimentos, vou para começar a pedalar e vejo que me tinham
desaparecido do topo da bolsa de guiador os cartões plastificados que tinha
preparado com o Roadbook. Depois do primeiro impacto (e respetivos impropérios
mentais), recompus-me e fui buscar a folha de papel suplente que trazia no
porta-bagagens traseiro. É a vantagem de tentar antecipar o que pode correr mal
e estar preparado para os imprevistos. Ainda fui uns quantos quilómetros a
matutar como é que aquilo podia ter desaparecido, mas acabei por me voltar a focar no desafio que tinha em mãos.
Depois do merecido descanso (pelo menos eu acho que foi
merecido) já estou a pensar no próximo."