2011-03-22

PT OPEN XCR - 1ª Etapa - ABRANTES - 19 de Março de 2011 - II

Relato do JP:

"Pois é! Esta já está! Venham as próximas, sabendo à partida que pelo menos a 3º etapa, Proença-a-Nova, vou ter de faltar devido a indisponibilidade da data anunciada! Tenho pena, pois no mínimo os pontos de presença, estariam garantidos! ;)


Esta foi de facto, das 3 vezes em que participei a solo em provas de 12 horas a solo, a mais difícil de todas elas!

Um percurso tremendamente difícil! Não pela sua extensão, apenas 4,7 kms por volta, mas sim pelas dificuldades ao longo do mesmo! Uma primeira parte de percurso praticamente todo a descer, sim, mas onde a velocidade máxima que consegui atingir foram apenas 37,2 kms/h e num único ponto onde isso era possível. Não mais de uns 100 metros e ainda assim com pedras soltas. Porque o resto da descida era toda ela em single track e com um grau de dificuldade bem grande. Ora porque num dos lados era declive. Ora porque era muito sinuoso e com pedras soltas na primeira parte, sendo que a segunda parte do single era uma terra mais húmida e mais solta onde à passagem dos concorrentes foi ficando gradualmente cavado nalguns pontos, dificultando assim a negociação de algumas curvas bem fechadas!

Este tipo de terreno levava-nos até cerca dos 2,7 kms da pista. A partir daí, começavam outro tipo de dificuldades! Não só porque os praticamente 100 metros de acumulado de subida estavam todos neste km e meio final de volta, como o tipo de piso a que estávamos sujeitos volta após volta. Começava-se a subir gradualmente e a bom ritmo mas com as irregularidades do terreno a fazerem mossa no corpo ao longo das horas passadas e eis que nos deparávamos com um piso que nem sei bem como o descrever?!?!?

Era um misto de areia (movediça) com uma espécie de goma que nos mantinha colados ao solo e por muito que pedalássemos, pouco progredíamos! Terrível a cada passagem!

Seguia-se mais umas 2 centenas de metros de subida, embora em melhor piso e depois... sim... depois... é que "a-porca-torcia-o-rabo"! Passados uns estrados de madeira que minimizavam uma lama muito viscosa, seguia-se um ziguezaguear por uma encosta acima onde até fazia confusão como um plano tão inclinado não era o suficiente para escorrer a água que se acumulava naquele terreno. Criava rasto a cada passagem e com o passar das horas era uma aventura passar ali, pois nos rastos anteriores a água aparecia vinda de baixo nas voltas seguintes...!

Tornou-se um martírio passar por ali, sendo que a partir das sensivelmente 17 voltas, passei a fazer quase tudo em "empurra-bike" e assim minimizava o esforço de em cada pedalada, metade da volta da roda era literalmente a patinar...! Findo este ponto de martírio, uma ligeira subida mais que nos levava até ao início da recta que era feita em ambos os sentidos e aqui era mesmo o único ponto, em minha opinião, em que podíamos descansar um pouco, pois era em asfalto, e nos levaria a cruzar a meta. Mas, não teria mais de 200 metros, já considerando ambos os sentidos em que era feita!

Bem, depois desta breve descrição ao percurso.... rsrsrs... vamos à prova em si! Comecei a mesma em bom ritmo mas rapidamente me apercebi que teria de diminuir um pouco, senão... as pilhas iam descarregar depressa demais! O calor que se fazia sentir, também não ajudava lá muito...!

Ao fim de 10 voltas ao percurso e depois de muito reclamar comigo próprio sobre o que andaria ali a fazer que justificasse o sofrimento... decidi parar para me alimentar melhor, para além de barrinhas e meia dúzia de biscoitos que levava comigo.

Fui ver as classificações, visto até ali não fazer a mínima ideia de como estariam e fiquei surpreso ao ver que (já) me encontrava em 6º lugar. Muito melhor do que esperava, confesso! Foi um alento para combater o desespero que estava a passar! A partir daí, foi tudo uma questão de estratégia e gestão. Quer de esforço, quer de autonomia de luzes. Pois nesta altura do ano anoitece mais cedo, o que faz com que necessitamos de mais horas de luz.

E assim lá foram passando as horas, à medida que os concorrentes em pista também foram diminuindo. Nomeadamente com o final das provas das 6 horas e com a saída de pista das autênticas "locomotivas" que eram alguns dos concorrentes às 6 horas.

Ainda me cruzei algumas vezes com o nosso amigo PL, que tentava incentivar-me a cada passagem. Mas a minha velocidade era de cruzeiro e não dava para mais!

No seguimento da gestão que fui fazendo, sabia que estava uma volta atrás do concorrente que me precedia e sem hipóteses de o apanhar, a menos que ele parasse.... e sabia também que estava com uma volta de vantagem para o concorrente que vinha atrás de mim. Pelo que, também não podia parar! Lá fui continuando até às 23h51m, altura em que junta à meta lá estava o PL a informar-me que poderia ficar por ali, pois já não havia perigo de alterar a classificação. Mas como já vinha "formatado" para uma volta mais, lá continuei por uma questão de teimosia e tira-teimas com o cronómetro oficial da prova. Pois consegui retirar 3 minutos na última volta, às 5 voltas anteriores que insistentemente foram completadas sempre no mesmo minuto, numa regularidade irritante! Havia que tirar a forra e queimar os últimos "cartuchos"! rsrsrsrs

E pronto, lá ficou aqui mais um dos meus resumidos relatos...! ;)

Quanto à participação do amigo PL, deixo para ser ele a comentar, como é óbvio! Contudo, agradeço-lhe aqui o grande companheirismo e apoio que me foi dando ao longo da prova!

Quero ainda agradecer ao JB e ao SD, por se terem desdobrados em esforços de modo a conseguirem fazer-me chegar uma bateria suplementar que estava no Coimbrão e num ápice veio parar a Lisboa. Daí a Miraflores e seguiu comigo para Abrantes. Foi de facto uma ajuda preciosa que fez com que não houvesse praticamente tempo perdido com a questão das luzes!"

Relato do PL:


“Então cá vai o relato…
Chegados a Abrantes comprovámos o que seria previsível. O local de acampamento era no parque de estacionamento do complexo desportivo. Havia um relvado um pouco mais afastado, mas ficámos com dúvida se o sistema de rega não dispararia automaticamente. Jogámos pelo seguro e optámos pelo asfalto. Antes de montar o estamine tratamos das formalidades administrativas, que decorreram com grande agilidade.

Como chegámos cedo havia tanto espaço que a dificuldade era a escolha. Decidimos ficar afastados da pista para conseguir ter algum recato e tentar que o descanso fosse longe dos barulhos. Como homem prevenido vale por dois tinha comprado uns pregos de aço valentes que nos permitiram agarrar as tendas ao solo.

Nesta prova experimentei uma nova versão de box, constituído por um abrigo Base II Seconds da Quechua, com 5 metros quadrados, no interior do qual montei a tenda, que ficou assim mais abrigada, e sobrando espaço suficiente para vestiário, para guardar tralhas (e a bicicleta, durante a noite) e para o que fosse preciso mais. Está aprovado.

Estávamos nos preparativos finais quando começou a decorrer o briefing e ficámos a saber que a prova de Maio seria em Monsanto (no de Lisboa).

Até à partida o tempo passou a correr e quando demos por isso estávamos a começar a prova, que por acaso se iniciou uns minutinhos adiantada. Como de costume deixei-me ficar para trás evitando as molhadas, mas ainda assim apanhei algum engarrafamento, porque pouco depois iniciavam-se logo singles e zonas técnicas.

A primeira volta serviu como volta de reconhecimento e como tal fui progredindo com o cuidado possível. Já estava prevenido que o circuito não seria fácil e pude comprová-lo, mas também pude verificar que tinhas singles muito divertidos.

Ao contrário do que é costume, não tinha nenhum plano delineado e só após concluir a primeira volta determinei que tentaria fazer conjuntos de cinco voltas seguidos de uma ligeira paragem. Foi assim que fiz a primeira paragem às 14:07 para comer algo substancial, porque tinha comido pouco antes do meio-dia. Pude nesta altura constatar que estava em 31º lugar e portanto fora dos pontos. Voltei a pedalar cerca de 35 minutos depois para mais um conjunto de cinco voltas. A partir desta altura deixei de tentar pedalar na subida mais complicada do percurso. No balanço custo/benefício, o tempo que se ganhava não justificava o desgaste adicional, pelo que da sexta volta até ao final, esta seria uma zona de empurra-bike para descansar (dentro do possível). Havia também uma subida de cinco metros logo no inicio da volta que também decidi fazer a pé, porque mais uma vez não justificava o desgaste, até porque era depois de uma curva apertada e do lado direito tinha uma encosta pouco simpática, onde cheguei a apanhar um pequeno susto. O resto do percurso era todo ciclável e a primeira metade era um mino. Era daqueles em que cada passagem na meta significava mais uns minutos de gozo nos singles. Era assim fácil decidir fazer só mais uma volta a cada vez que se passava na meta (ou não, como à frente se verá…).

Estava a fazer voltas em cerca de 30 minutos, mais cerca de 3 minutos que no primeiro conjunto de cinco voltas, pelo que fiz a nova paragem às 17:10. Comi qualquer coisa, tratei da bike e voltei ao percurso cerca de meia hora depois. Tinha subido uns lugares e andava agora por volta do 27º lugar, mas com muita gente por perto, pelo que subir ou descer três lugares era muito fácil, dependendo das paragens de cada um. Não ia conseguir fazer cinco voltas antes de ter montar luzes, mas faria o que conseguisse. Foram só duas. Parei às 18:40 para jantar e montar as luzes. Aproveitei esta paragem para tratar da suspensão dianteira, onde o bloqueio estava a dar problemas, dado que não desbloqueava totalmente e a tornava muito dura. Desmontei a parte de cima da perna direita e limpei, mas não resolveu, pelo que cortei o mal pela raiz e fiz o que já há algum tempo tinha pensado fazer. Retirei o bloqueio e a suspensão passou a funcionar muito melhor. Fui depois comer e quando peguei na bicicleta para voltar ao circuito tive a surpresa desagradável de ter a roda de trás completamente em baixo. Tentei encher para ver se o líquido fazia a sua obrigação, mas sem sucesso. Procurei algum pico espetado no pneu, mas a lama não me permitiu ver nada. Tive mesmo que desmontar a roda, de onde tirei um espinho de tojo com mais de um centímetro de comprimento. Devo ter perdido uns vinte minutos adicionais nestas operações todas e só voltei a pedalar quase às oito da noite.

A primeira volta nocturna é uma nova volta de reconhecimento e feita com o devido cuidado. Para meu espanto o circuito estava a aguentar-se bem, havendo mesmo algumas zonas onde tinha melhorado, pelo que só havia que desfrutar das voltas ao luar, que mais uma vez nos proporcionavam vista espectaculares sobre o Tejo. Na última das cinco voltas decidi mesmo parar para ver o pessoal a descer o single que estava traçado na encosta da margem do Tejo. Foram uns dez minutos de paragem que valeram bem a pena. De facto, as luzes dos concorrentes aos esses na encosta faziam um efeito espectacular.

Concluí a volta 17 às 22:47 e tinha agora de decidir se voltava ao percurso ou esperava pelo fim das 12H para acompanhar o JP na chegada. Estava em 26º e seria previsível que descesse uns lugares, mas optei por ficar. Tratei da máquina e mudei de roupa e segui para a zona da meta para ver como estava classificado o JP. Um pouco antes da meia-noite avisei-o que não valia a pena dar mais nenhuma volta. Estava em sexto e já não ia subir nem descer. Não me ligou e seguiu para mais uma volta. Ganda maluco!...

Esperei por ele e assistimos ao pódio das 12H, após o que ele seguiu para os balneários e massagem e eu fui beber um chocolate quente cedido pela organização antes de recolher ao meu T1.

Como me deitei cedo, pretendia começar a pedalar cedo e acertei o despertador para as 6:00. Custou-me a adormecer, mas ao fim de algum tempo consegui. Acordei com a Luz do Sol. Já passava das 7:00. Acertei o despertador, mas esqueci-me de o ligar. Dah!...

Como tinha tudo preparado para começar a pedalar, foi só tomar o pequeno-almoço e seguir para o circuito. Tinha descido um lugar (menos do que o expectável) e muito antes da 8:00 já estava a pedalar. No fim as cinco voltas da ordem fiz uma flash pit stop para tirar os agasalhos, porque estava a ficar calor. Se não perdesse muito tempo conseguiria completar 25 voltas por volta do meio-dia e este passou a ser o meu objectivo.

Cerca de cinco minutos antes do fecho do circuito preparava-me para sair após as 25 voltas programadas quando o JP me chama. Dizia ele que eu há pouco tempo estava em 25º lugar e se desse mais uma volta podia subia para 21º. Ora eu tinha dado a última volta um pouco mais rápida, para tentar não ser passado por nenhum dos meus adversários directos, que eu sabia estarem muito perto. Tinha mesmo esperança de ter passado alguns nesta volta (pelo menos tinha-me parecido). O cenário de ter de fazer mais uma volta era aterrador. Estava esgotado e decidi ficar por ali. Fui ver as classificações e de facto, mesmo sem a volta adicional tinha subido para 23º, com três minutos de vantagem sobre o 24º. Não me arrependi da decisão.

Foi uma participação ao nível do expectável. Trouxe mais uns pontinhos que os devidos apenas à participação, o que é sempre agradável.

Fomos desmontar o estamine após o que tomei banho e comemos “qualquer coisa para o caminho”. Fizemo-nos à estrada já a pensar na próxima etapa, mesmo à porta de casa, com as vantagens e inconvenientes associados.

Faltou falar da organização, mas se em 2010 foi bom, agora ainda foi melhor, com mais alguns detalhes (como o chocolate quente a e sopa durante a noite, estrados de madeira na zona mais lamacenta e até rampas de madeira nas zonas em que se tinha de subir passeios). O cuidado com que tudo é tratado e a constante preocupação com os participantes são a imagem de marca da Horizontes.”

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